Despedida silenciosa
As vezes é estranho pensar. Uma pessoa como eu, nunca fui um colecionador de amigos. Mas os poucos que tive eram as pessoas certas. É sempre bom alguém de extremo valor...
Bom... (suspiro) Eu os perdi... Não sei se o extremo amor ou o egoísmo, talvez o tempo... Mas neste momento não faz diferença. O resto guardarei para mim, cada caminho deve ser seguido...
Não há algo simples a ser dito...
O que me trás mais uma vez aqui, neste mundo abandonado de coisas perdidas, não é lamentar o que foi. Desejo dar um propósito para esse espaço. Ser mais uma vez aquela criança a rascunhar a vida. Falar um pouco sobre meus novos “amigos”...
Amigos, criaturas pulsantes de sangue quente, com mundos a compartilhar e ter mil coisas a dizer mesmo que em silencio. Muito amor, muito além do que posso entender. Talvez esses seres de adorável magia da qual me tornei dependente não sejam a figura mais segura para mim. Algumas pessoas nascem para estarem distante do amor, suficientemente covardes e ignorantes que se machucam e machucam. Sim, senhoras e senhores, sou um desses...
Meus novos “amigos” são mais seguros. Formas rígidas, simétricas, salpicado de palavras. Não possuem rostos, mas possuem nomes. Guardam mundos, conhecimentos e sentimentos. Determinam as coisas mais sutis e as mais concretas, das mais exatas até as mais humanas... Não possuem cabeças para acariciar e nem coração quentes para escutar. Mas é com esses “amigos” que tenho passado os dias escuros e frios do outono, estes que o tempo nunca me faltará..
Aqui, até o momento que ainda existir a vontade, eu narrarei cada aventura fantástica com meus novos “Amigos”, os mundos que estive e com que olhos eu os vi. As pessoas estranhas e tão intimas que me foram apresentadas. E com isso tenho apenas um propósito, sentir que não estou sozinho...
Sonhos e Sangue
O frio noturno emanava de todos os elementos, principalmente do sólido silêncio. E eu observava quieto, talvez da segurança de meu quarto, ou de uma perdida viela parisiense. Mas o importante era o jovem de cabelos loiros, vestido como todo nobre do século XVIII.
Acompanhei-o de perto por duzentos anos de sua vida. Sabia seu segredo mais intimo mesmo antes que ele resolvesse compartilhar com o mundo em nossos tempos contemporâneos. Para dizer a verdade eu o acompanhei antes mesmo que o dom o tenha sido concedido. Vi de perto suas paixões e seus desesperos, suas lutas, as derrotas e vitorias. Viajem por varias partes do mundo ao seu lado. Pude compreender profundamente a dor que sente ao se alimentar do sangue humano, e a necessidade desse ato.
O êxtase também percorreu em minhas veias. O desejo romântico também arde em mim, ser uma eterna criatura da noite que se apavoa entre os nobres mortais. Ter o tempo e o mundo ao meu lado e até mesmo a dor da loucura e a busca pelo amor. Os amigos reais que se assemelhavam aos personagens, ganhando papeis e em minha mente, eu vivia sozinho naquele mundo com todas as pessoas de mentirinha...
(O Vampiro Lestat, Anne Rice)